sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Ilusão que faz bem




A hipnose conquista espaço como recurso eficaz em consultórios e hospitais públicos.
Uma velha terapia que por longo tempo sofreu o estigma de ser mera atração em shows de ilusionistas vem conquistando espaço nos meios médicos a passos lentos, mas seguros. A hipnose sai de um pequeno círculo de profissionais e começa a ser usada por especialistas de instituições respeitadas. Neste ano, foi aprovada como prática rotineira no Grupo da Dor do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. No mês passado, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) ofereceu
um curso teórico e prático para médicos, dentistas e psicólogos com lotação esgotada. Já no Rio de Janeiro, ela vem sendo praticada no Hospital Municipal Miguel Couto desde 1991.
A hipnose é uma ilusão imposta ao cérebro por meio de técnicas de sugestão, que provocam um estado alterado de consciência. Para os especialistas que usam o método, ela já deveria constar dos currículos de Medicina do país há longo tempo. Muito usada no passado, principalmente como anestésico, a técnica perdeu prestígio com a descoberta de analgésicos químicos no início deste século e passou a ser cada vez
menos aplicada. Hoje, a luta da pediatra e psicanalista Laís da Rocha, presidente da Sociedade de Hipnose do Rio de Janeiro, é para mostrar os benefícios da hipnose aos médicos que ainda a vêem com ceticismo. "Atualmente já se admite a ligação entre o processo hipnótico e o sistema nervoso central", argumenta Laís.
De fato, não há nada de sobrenatural nesse processo. A prova definitiva de que o cérebro responde ao transe (estado alterado de consciência) veio de estudos das universidades americanas Harvard e Stanford. Imagens feitas por tomografia de emissão de pósitrons (PET), aparelho que mapeia com precisão o funcionamento do cérebro, mostraram que pessoas hipnotizadas podem ser levadas a acreditar que uma paisagem em preto-e-branco é colorida - e vice-versa (leia abaixo). Não se sabe por que a informação que chega à parte frontal do cérebro é processada de modo diferente durante a hipnose. O senso crítico, que domina o consciente, fica amortecido e o cérebro pode ser enganado. "É possível alterar uma informação de dor, por exemplo, para uma sensação agradável", explica o obstetra Osmar Ribeiro Colás, coordenador do curso da Unifesp. É fundamental o médico conhecer bem o paciente para não correr o risco de
mascarar uma doença grave.  Para a jornalista Marisa Rodrigues, fundadora da Associação Brasileira dos Pacientes de Dor Crônica, entidade que reúne pacientes da capital paulista, a técnica é uma bênção.
"Só quem convive com a dor sabe como é importante todo o auxílio que se puder conseguir", diz Marisa, que sofre de cistite intersticial (inflamação da bexiga) e submete-se a sessões no HC de São Paulo. O neurologista Ungaretti Júnior explica que a terapia age como auxiliar no tratamento de pacientes que têm dor crônica. "Ela é importante também porque reduz o consumo de drogas", diz. A hipnose pode ser usada
para um vasto leque de problemas. A professora Denise Hinsch dos Santos procurou o ambulatório do Hospital Municipal Miguel Couto, no Rio, em 1992, para tratar-se de dislexia (dificuldade para ler e compreender palavras) e síndrome do pânico, doenças que podem ter fundo emocional. "A terapia trouxe de volta o equilíbrio e me deu paciência para resolver problemas", diz Denise.
Em tese, todos são suscetíveis à hipnose, desde que aceitem entrar em transe. Ou seja, ninguém é hipnotizado contra a vontade. Também não procede o mito, reforçado pelos hipnotizadores de salão, de que a pessoa fica à mercê do hipnotizador, diz a psiquiatra Sofia Bauer, uma das maiores autoridades em hipnoterapia do país e diretora do Instituto Milton Erickson, de Belo Horizonte. "Na hipnose ninguém faz nada contra a vontade", explica. Até os animais podem ser hipnotizados por gestos repetitivos, mas
sem nenhuma aplicação prática.
É provocando esse estado de alerta que o psicólogo Rui Fernando Cruz Sampaio procura esclarecer crimes no Instituto de Criminalística de Curitiba, no Paraná. No momento da violência, normalmente a vítima esquece fatos importantes em razão do trauma. "Já ocorreu de pessoas lembrarem-se até do número das placas do veículo, por exemplo", diz Sampaio, convencido de que a hipnose é mais uma arma a ser usada pela polícia.

O terapeuta pode sugestionar um paciente hipnotizado a acreditar que a imagem que vê em preto-e-branco é colorida. Quando isso ocorre, a parte visual responsável pela visão colorida, na região posterior do cérebro, é ativada. Imagens do tomógrafo mostraram que esse engano não ocorreu nos pacientes em
estado normal.
A Teoria vem do século 18. Descoberta de drogas ofuscou a eficácia da hipnose no tratamento de doenças
Franz Anton Mesmeré, considerado o pai da hipnose. Nascido em Viena, em 1734, ele acreditava ser preciso estimular a crise convulsiva para curar.
Sigmund Freud interessou-se pela hipnose e trabalhou ao lado de Josef Breuer em 1890. Mas depois
concentrou-se no estudo da psicanálise.
Na Primeira Guerra Mundial soldados em choque ou recuperação de ferimentos leves eram tratados por hipnose para retornar logo ao front.

 Alberto Ludwig e correspondentes (Revista Época / 2008 )

Indicação do Psicólogo da Cliniviva,  Dr José Carlos Tópor.

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